domingo, 5 de agosto de 2007

"PREFIRO CARREGAR O PESO DE UMA MOCHILA NAS COSTAS DO QUE A CONSCIÊNCIA DE NÃO TER CONHECIDO O MUNDO..."

A princípio, o dia 10 de julho de 2007 deveria ter sido apenas mais uma terça-feira comum pós-feriado em São Paulo, mas para mim, certamente foi a terça-feira mais especial do ano. Já havia me decidido a comunicar no banco o meu desligamento assim que recomeçasse a semana. Confesso que passei o feriado inteiro elaborando mentalmente o discurso que iria adotar e, quer saber, é surpreendente como a nossa mente pode ser ser muito mais fértil do que jamais imaginamos quando estamos submetidos a uma situação desse tipo.

Claro que eu, um cara super emotivo, mas que invariavelmente sempre agiu com racionalidade, estava preparado para todos os cenários possíveis, do mais otimista ao mais pessimista, sem contar aqueles surrealistas e paranóicos! A experiência foi boa, porque também serviu para me mostrar o quanto a minha loucura e sanidade realmente caminham lado a lado! Como diz o dito popular: "... de louco todo mundo tem um pouco...". Verdade inexorável!!! Bom, digressões à parte, o que aconteceu foi mais ou menos, ou melhor, exatamente assim:

Cheguei ao banco para trabalhar aliviado pela terça-feira finalmente ter chegado, mas com o aperto no coração de estar prestes a abrir de uma coisa que eu realmente gosto. Fingindo ser só mais um dia rotineiro, liguei meu computador e fiquei à espera do melhor momento para conversar com meu supervisor. Assim que senti que esse momento havia chegado, fui conversar com ele. Disse que precisava conversar sobre algo muito importante e que certamente iria impactar o nosso trabalho e o planejamento da nossa área. Comecei dizendo, com falsa e dissimulada tranqüilidade e naturalidade, porém, com toda a sinceridade possível que, desde garoto, quando comecei a mochilar, eu tenho um sonho de vida, o sonho de passar um tempo no exterior, conhecendo países, pessoas, lugares, culturas, visões, vivendo experiências novas e diferentes. Desde então eu venho tentando realizar este sonho, mas por diversos motivos distintos, nunca consegui viabilizá-lo. Como nunca enxerguei estes percalços como resultado final, continuei sempre acreditando na possibilidade de um dia torná-lo real e, por isso, vinha me preparando e lutando para realizá-lo um dia. Contei que na sexta-feira da semana anterior havia recebido um retorno do agente e que tudo indicava que para este ano, a viagem estava certa para acontecer e iria começar provavelmente no mês de setembro. A partir deste ponto, eu havia feito um exercício mental o feriado todo para responder com calma a quase todas as reações possíveis e existentes entre os dois extremos:

"Ulisses, estou me sentindo traído por você. Você nunca me falou sobre essa possibilidade. Eu vinha investindo forte no seu desenvolvimento, pois sempre confiei muito em você. Quebra de confiança é algo que eu jamais suportei!!! Por favor, pegue suas coisas e passe no RH imediatamente. Não quero mais vê-lo na minha frente!"

"Como assim viajar???? Você é a pessoa mais importante da nossa área, quiçá do banco!!! Como vamos viver sem você daqui para frente??? Não vá, fique conosco, por favor, eu lhe imploro!!!!"

Graças a Deus a reação nçao foi nenhuma dessas. Como realmente era de se esperar do meu supervisor, foi sensata e madura. Alívio que me deixou pelo menos uns 200 quilos mais leve psicologicamente..."Estou entendo que a decisão já está tomada, né?" "Sim, há quase dez anos!" "Realmente é uma perda significativa para nós, porque como você mesmo sabe, você é hoje o meu backup natural aqui na nossa área. Você tem uma boa visão estratégica, conduz projetos melhor que ninguém na nossa equipe e vêm se desenvolvendo bem também na operação. Mas se realmente é um sonho, esse é o momento certo de realizá-lo. Analisando de fora, entendo essa sua decisão e apoio." "Obrigado pelas palavras. Sabe, sempre que esta viagem quase se concretizou, a restrição mais fácil de me livrar sempre foi o trabalho. Na minha cabeça, esta sempre seria a restrição mais tranqüila de lidar neste momento. Porém, neste ano tudo mudou. O trabalho está sendo a minha maior restrição. Eu estou muito feliz na nossa área, com o trabalho que venho fazendo, com as pessoas com as quais trabalho, com as perspectivas que existem aqui para minha carreira...É difícil abrir mão disso, mas por outro lado, como abrir mão de um sonho de vida? Qual é a contra-partida de um sonho??? Na minha idade, existem pessoas que sonham em ter o carro do ano, outras sonham em comprar um apartamento. Eu sonho em fazer uma viagem de volta ao mundo". Certamente no futuro terei outros objetivos e sonhos, mas no momento, acredito que é isso que me trará felicidade e realização!!!"

Combinamos que ficaria até o final do mês para que fosse possível achar um substituto sem prejudicar os resultados. Enfim a angústia passou, mas em compensação, deu lugar a uma tristeza e saudade colossais que mesmo sem eu ter saído de lá, já estão tomando conta de mim!!!! Sem dúvida, vou sentir muita saudade de tudo e de todos!!!


Ao menos sairei do banco com o sentimento de dever cumprido e com a confiança de que este não foi um "adeus", mas sim um "até breve"! Afinal, não dizem que "o bom filho à casa retorna"? Pois então, esta pode ser também a oportunidade ideal para tirar a prova dos nove e validar se, de fato, fui ou não o tal "bom filho"...Em 2008 saberemos!!!